Teresa de Saldanha
Teresa Rosa Fernanda de Saldanha Oliveira e Sousa (1837 - 1916)
De estado de saúde débil e preocupante Teresa tornou-se muito sensível, necessitando desde cedo da permanente presença e dedicação da mãe. Em 1840, aos três anos, devido à persistência de sua mãe, Teresa recuperou do estado de saúde debilitado e aprendeu a ler (em 1842 já acompanhava as celebrações litúrgicas com o missal).Proveniente de uma família nobre, Teresa nasceu no dia 4 de Setembro no Palácio da Anunciada, na Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa. Filha de João Maria do Sacramento de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa e de Isabel Maria de Sousa Botelho, terceiros condes de Rio Maior, foi baptizada no dia seguinte ao seu nascimento na Capela do Palácio da Anunciada e, em 1848, fez a Primeira Comunhão no altar de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja dos Inglesinhos, em Lisboa.
A mãe teve um papel preponderante na sua orientação, primeiro na educacional ensinando-lhe letras (português, história, francês, inglês e alemão), os princípios da música e da arte e colaborando com professores particulares escolhidos por si, e na religiosa iniciando-a na prática da misericórdia através da Associação de N. Sra. Consoladora dos Aflitos que fundou em 1849 e que se dedicava ao socorro das famílias que viviam na pobreza.
Em 1855, com dezoito anos, ao pintar o Ecce Homo, Teresa sentiu o primeiro apelo místico e fez voto de castidade e um ano mais tarde redigiu um escrito onde declarou claramente a sua opção de exclusividade a Deus e ao serviço dos pobres.
Dirigiu o Colégio de Sta. Marta para Meninas Pobres, apoiado pelas Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo que se encontravam em Portugal exercendo a sua missão de atender aos pobres e desprotegidos. Em 1859, fundou, em Lisboa, com algumas amigas e dirigiu durante toda a sua vida a Associação Protectora das Meninas Pobres com Estatutos aprovados pela Santa Sé, a 21 de Abril de 1863. Esta associação está na origem da fundação da Congregação. Dedicava-se à educação de crianças pobres e à alfabetização e promoção de raparigas operárias através de aulas externas. Em 1862, as religiosas francesas foram expulsas de Portugal e Teresa, inconformada com a situação, lutou contra esta lacuna assistencial.
Em 1864 foi submetida a uma intervenção cirúrgica e, durante a convalescença, reflectiu sobre a sua vida e sobre o rumo a seguir. Na sequência destes acontecimentos, e numa tentativa de renovação religiosa do país apesar do ambiente anticongregacionista em que se vivia, Teresa manifestou à sua mãe o desejo de ser religiosa e à sua cunhada, a Marquesa de Rio Maior, a intenção de ingressar nas Irmãs da Ordem Terceira de S. Domingos, em Stone/Inglaterra, para a qual já estava aceite. Como o pai se opôs à sua saída para o estrangeiro e, vendo a necessidade do seu país, sentiu que Deus a chamava a fundar em Portugal uma congregação que se dedicasse ao serviço dos mais pobres e desfavorecidos da sociedade, como a própria salientou:
"Vendo a necessidade de estabelecer na minha Pátria uma ordem Religiosa activa, que se pudesse ocupar da educação de crianças pobres e ricas, pondo em prática todas as obras de misericórdia; que tratasse dos pobres doentes, os visitasse nos seus domicílios, numa palavra, que substituísse entre nós as Irmãs da Caridade."
(THIAUCOURT, Madre Teresa de Saldanha. Vida e Obra, p. 27)
Em 1866, Teresa tinha intenção de partir com as primeiras duas irmãs para fazer o Noviciado na Irlanda num Convento de Dominicanas Contemplativas, mas foi impedida pelo pai. Só em 1887 conseguiu realizar o seu sonho quando tomou o Hábito e iniciou o Noviciado a 18 de Abril com o nome de Irmã Teresa Catarina Rosa Maria do Santíssimo Sacramento. Fez a Profissão Religiosa a 2 de Outubro e foi nomeada a primeira Superiora Geral da congregação a 9 de Novembro, com licença especial de Breve de 21 de Dezembro de 1887 emitida pelo Papa Leão XIII. Estes acontecimentos culminaram com a tomada de posse do cargo de Superiora Geral no dia 15 de Janeiro de 1888 e, mais tarde, em 2 de Outubro de 1892, com a Profissão Perpétua.
Teresa de Saldanha distinguiu-se na pintura onde aprendeu com os mestres Mr. Leberthais (carvão) e Tomás José da Anunciação (aguarela e óleo), revelando grande talento para pintar paisagens, retrato ou motivos profanos e uma preferência pela iconografia religiosa. Deixou obras de grande qualidade pictórica que foram estudadas por alguns especialistas, como António Quadros numa conferência proferida em 1988, nos 150 anos do seu nascimento, na Fundação Calouste Gulbenkian, intitulada Romantismo e Misticismo na Pintura de Teresa de Saldanha. Destacam-se nas suas obras: um auto-retrato e vários retratos de família (primeiros carvões, 1851), Ecce Homo (1855-1856), carvões, aguarelas e óleos (1856), Painel do Sagrado Coração de Jesus e S. João Baptista (Goa, 1865), Santa Brígida (Convento das Inglesinhas, 1865), Nossa Senhora e o Menino Jesus (Hospital de S. Luís das Irmãs da Caridade Francesas, 1865), Painel em honra da Beata Maria dos Anjos (1865), as últimas produções pictóricas (1869), a Mater Dolorosa e Santa Rosa de Viterbo.
Teresa de Saldanha foi a primeira mulher fundadora em Portugal após a extinção das ordens religiosas. Tinha uma personalidade forte, determinada, organizada, uma notável capacidade de liderança e era trabalhadora, culta e piedosa, valores que imprimiu ao longo da sua vida em todas as acções que realizou, não esquecendo jamais a sua grande paixão a Deus e aos pobres. Foi, sem dúvida, uma grande figura feminina que se adiantou ao seu tempo, ao ocupar-se da educação feminina, e que soube corresponder às necessidades impostas pela evolução da sociedade. À data da sua morte fundara 27 casas: em Portugal 17, no Brasil 6, na Bélgica 1, nos E.U.A. 2 e em Espanha 1.Deixou também um grande espólio literário de escritos pessoais e de circunstância, nomeadamente notas autobiográficas e das suas memórias, orações, cartas, relatórios e contas. Faleceu com fama de santidade numa pequena casa alugada na Rua Gomes Freire, n.º 147, em Lisboa, no dia 8 de Janeiro de 1916 com setenta e oito anos, completamente despojada dos seus bens que lhe tinham sido retirados com a implantação da República. As exéquias foram realizadas na Igreja do Corpo Santo, em Lisboa, e o seu corpo foi sepultado no jazigo da congregação no Cemitério de Benfica, na mesma cidade, onde hoje repousa.
A sua memória, que continua viva nos corações tocados pela sua bondade e perseverança, serviu ao longo dos anos de inspiração à realização de diversas comemorações relacionadas com a sua vida e obra e com a congregação que fundou, através da publicação de livros, biografias e artigos, fotografias, conferências, exposições, peregrinações, programas de rádio e televisão, dramatizações, autocolantes, postais, cartazes, desdobráveis, etc.
Em 1937, foi comemorado o 1º Centenário do Nascimento de Teresa de Saldanha; em 1939, o 80º Aniversário da Associação Protectora das Meninas Pobres; entre 1968 e 1969, o 1º Centenário da Fundação da Congregação; em 1987, nos 150 anos do Nascimento de Teresa de Saldanha, foi lançada pela Congregação uma colecção de selos com o rosto da fundadora e, um ano mais tarde, foi atribuída à Rua Particular, à Estrada da Póvoa, o topónimo "Rua Teresa de Saldanha"; em 1993, 1994-1995 e 2000 foram promovidos Encontros Internacionais sobre assuntos de interesse da congregação; a Câmara Municipal de Lagoa, no Algarve atribuiu, em 1995, o seu nome a uma rua; em 2001, a Câmara Municipal de Rio Maior gratificou o topónimo de "Madre Teresa de Saldanha" a uma rua da cidade.
Actualmente decorre o seu Processo de Canonização que abriu em Portugal a 6 de Novembro de 1999 e encerrou a 17 de Novembro de 2001, entregue em Roma a 14 de Fevereiro de 2002.